Estudo especial do DIEESE publicado no mês da Consciência Negra revela que o setor continua marcado por padrão discriminatório
Mesmo com o aumento expressivo de trabalhadores negros na indústria metalúrgica entre 2023 e 2024, o estudo especial do DIEESE, publicado no mês da Consciência Negra, revela que o setor continua marcado por um padrão persistente: negros e negras seguem recebendo menos, ocupando os cargos mais precarizados e enfrentando mais barreiras de ascensão profissional.
De acordo com os dados da RAIS (Relação Anual de Informações Sociais), do Ministério do Trabalho, analisados, a presença negra na categoria cresceu 23,8% no período, chegando a 40,1% da força de trabalho metalúrgica. Apesar disso, a desigualdade salarial permanece praticamente inalterada.
O recorte de gênero escancara o impacto da combinação entre racismo e machismo. As mulheres negras são o grupo com menor remuneração da indústria: recebem, em média, 56,6% do salário de um homem não negro, proporção que se repete em praticamente todos os segmentos analisados.Nos setores com maior presença feminina, como o eletroeletrônico, a distância salarial é ainda mais evidente.
Saiba Mais
Outro ponto revelador do estudo é que a desigualdade não diminuiu com a formação escolar, ao contrário, se aprofunda. Entre trabalhadores com ensino superior, os metalúrgicos negros recebem 24,7% menos que os não negros com o mesmo nível de escolaridade.
Essa distância mostra que a diferença não pode ser atribuída apenas à qualificação, mas sim a filtros discriminatórios e estruturas de desigualdade presentes no mercado de trabalho.
A secretária de Igualdade Racial da CNM/CUT, Christiane Aparecida dos Santos, avalia que os números apresentados reafirmam a urgência de enfrentar a desigualdade racial no setor: “Esses dados escancaram uma verdade que a gente sente na pele: o racismo ainda decide quem ganha mais, quem chega nos melhores cargos e quem continua sendo ignorado dentro das fábricas. Nós, metalúrgicas e metalúrgicos negros, enfrentamos isso todo santo dia. Por isso, nosso compromisso é transformar esses números em mudança real. A luta contra o racismo não é só no 20 de novembro, é todo dia, o ano inteiro. E nós vamos seguir firmes cobrando respeito, igualdade salarial e responsabilidade das empresas e do Estado”, afirmou Chris.
Regiões com mais trabalhadores negros convivem com maiores desigualdades
O Norte e o Nordeste, que concentram as maiores proporções de metalúrgicos negros e pardos, também registram as maiores discrepâncias salariais. No caso das mulheres negras da região Norte, a remuneração média equivale a apenas 48,4% do salário de um homem não negro.
No Sudeste e no Sul, regiões que concentram 84,9% da categoria, a diferença permanece elevada, ainda que um pouco menor.
Nos setores em que os salários são mais altos, como o automotivo e o aeroespacial, a participação de trabalhadores negros é significativamente menor. Já segmentos historicamente marcados por rotatividade e menor remuneração, como outros materiais de transporte e o setor naval, apresentam maior presença de trabalhadores negros.
O estudo indica que a segregação não ocorre apenas dentro dos postos de trabalho, mas também na porta de entrada das empresas.
“Quando a gente analisa os números com cuidado, fica claro que não se trata de um desvio pontual, mas de um padrão estrutural que se repete em todos os recortes: região, setor, escolaridade e gênero. O estudo mostra que a desigualdade é produzida e reproduzida pelas empresas na contratação, na distribuição dos cargos, na progressão e nos salários. Enfrentar isso exige políticas concretas, transparência e compromisso real com a igualdade racial”, afirma a economista da subseção do Dieese na CNM/CUT, Renata Filgueiras.
CNM/CUT reforça que desigualdade exige ação imediata
Diante dos dados, a Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT defende a ampliação de políticas antirracistas, igualdade salarial e mecanismos de fiscalização efetivos dentro das empresas do ramo. Para a CNM/CUT, o estudo confirma que combater o racismo estrutural não é apenas um compromisso moral, é uma exigência para que a indústria avance de forma justa e sustentável.
“Esses dados provam que a desigualdade não é acaso, é projeto. Onde tem mais trabalhadores negros, os salários despencam. Onde os salários são altos, os negros somem. Isso não é erro: é racismo estruturado na entrada e dentro das fábricas. E nós não vamos aceitar. A CNM/CUT vai seguir batendo de frente para que contratar, promover e pagar com igualdade deixe de ser um favor e vire obrigação”, afirmou Chris.
Fonte: CNM CUT














